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Por que a fraude contra idosos é tão comum no Brasil?

Por Edmar Araujo

Não é de hoje que idosos aposentados são vítimas de golpes financeiros. Bandidos agem de todas as formas para roubar dinheiro desta parcela da população que é mal remunerada e que muitas vezes acaba por comprometer grande parte de seus vencimentos para cuidados com a própria saúde. A vida fica mais cara no Brasil exatamente quando passamos a ganhar menos para mantê-la.

Noticiado em vários veículos recentemente, a nova modalidade de fraude contra a população da terceira idade chama-se Kit Fraude. Criminosos entram em contato informando que há a aprovação de um cartão de crédito ou uma conta bancária, por exemplo, e pedem que os idosos enviem fotos de si e de seus documentos. Esses dados passam, então, a integrar um arquivo que é vendido na internet.

Quem o adquire, tem a seu dispor todas as informações necessárias para abrir uma conta em banco, requerer um cartão de crédito, constituir uma empresa e, também, acessar o aplicativo “Meu INSS”.

Segundo levantamento da Secretaria Nacional do Consumidor, foram mais de 57 mil registros de golpes do empréstimo consignado em 2022.

Agora, por que é tão fácil fraudar cadastros no Brasil?

O problema tem raízes muito profundas que ajudam a explicar.

A primeira delas é a frágil carteira de identidade, o famoso RG. Até pouco tempo não existia regulamentação sobre padronização, cadastro único e base biométrica confiável, o que faz com que a confirmação de identidade de uma pessoa venha a depender da perícia de atendentes. Ou seja, não é possível checar os dados do RG porque não existe banco de dados unificado. O Brasil tem ótimos projetos para resolver essa questão, sendo a nova carteira de identidade nacional (CIN) o mais promissor deles. Até o fim de 2023, todas as unidades da federação devem implementá-lo.

Outra é geracional. Uma não negligenciável parcela de idosos, mesmo usuários de novas tecnologias, ainda depende de uma pessoa de confiança quando precisam realizar operações mais sensíveis. Na ausência desse ente, acabam ficando expostos a criminosos virtuais.

Por fim, o mecanismo de segurança do aplicativo “Meu INSS” requer inúmeras melhorias, com especial atenção para o problema do login e senha. Muitos expoentes da tecnologia já condenaram esse método de autenticação e assinatura. Edward Snowden, que ficou famoso por revelar o programa de vigilância global dos Estados Unidos, afirmou várias vezes que a criptografia jamais deveria estar ausente em qualquer interação eletrônica. Além dela, uma identidade digital forte, derivada da identidade civil, com certificado digital e assinatura eletrônica qualificada deveria ser a credencial única de acesso a serviços públicos sensíveis, como é o caso do “Meu INSS”.

O tratamento que se espera por parte das autoridades públicas no Brasil passa, além do enfrentamento dos problemas acima mencionados, pela instituição de políticas públicas de prevenção de perdas financeiras da população idosa, pela regulamentação de medidas que instituam camadas adicionais de segurança em operações de empréstimos realizados em canais virtuais e pelo extermínio do binômio da insegurança popularmente chamado de login e senha.

Há tecnologia suficiente para combater esse mal.

Resta saber se haverá vontade política de travar essa batalha.

*Edmar Araujo, presidente executivo da Associação das Autoridades de Registro do Brasil (AARB). MBA em Transformação Digital e Futuro dos Negócios, jornalista.

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